História do CEAMIG

XX. Histórias da Piedade e Mateus Leme

Além da escalada monumental de Abrahão de Moraes, ornamentado com o chapéu de palha, outros fatos pitorescos aconteceram.

Jean Rösch, seguindo a prática que usava para analisar um sítio dirigiu-se a Dª Josina, a grande cozinheira da Piedade e autora do melhor feijão tropeiro do universo. Em um português cambaio ele perguntou: "você costuma ver sempre a lua e as estrelas?" Josina respondeu: "A lua eu não vejo não sinhô. As estrelas eu só vejo daquele lado".

Rösch ficou intrigado com tal resposta. Como era possível ver estrelas e não a lua? E qual o motivo pelo qual as estrelas só apareciam ao norte? seria algum fenômeno meteorológico local, ou algum capuz de nuvens que cobria parte do pico?

Muniz Barreto, vendo o embaraço do amigo, perguntou a Josina o motivo, e ela respondeu em meio a um sorriso: "Ora, o frei não deixa a gente sair de noite, e a janela é daquele lado".

Na empolgação com a escolha de sítio, Muniz Barreto, perguntou a Jean Rösch se naqueles poucos dias ele já poderia dar um prognóstico sobre a possibilidade de se achar ali algum bom sítio. Rösch, apelando mais para seu quase misticismo ponderou: " Veja como as mulheres mineiras têm boa pele e lindos cabelos. Isso é prova de um excelente clima. Onde há mulheres bonitas, tem-se um bom lugar para fazer astronomia".

Em visita à estação montada em Mateus Leme, Dr. Henrique ficou indignado com as queimadas que se faziam na região, e procurou o prefeito para ouvir dele uma explicação para tal fato.

Este o respondeu: "UAI sô, as queimadas só eu que faço, si não cumé qui eu vô roçá ?"

Quando a estação de observação meteorológica da Piedade foi montada, Muniz Barreto, que vinha a Belo Horizonte verificar como estava o andamento do trabalho desenvolvido por Rogério Godoy, Paulo Bandeira e Rodrigo Társia. O DER não havia instalado ainda a barraca de madeira e só havia uma lage de pedra. Por várias vezes este notável astrônomo dormiu sobre esta laje. quando a retiraram, foi descoberto um ninho com 47 escorpiões. Certamente fora para ele uma surpresa, e hoje ele nos conta esta estória para demonstrar como às vezes é necessário a um astrônomo ter um espírito de bandeirante.

Também por ocasião dos trabalhos da estação da Piedade, foi feita uma paródia que ficou conhecida como Hino da Piedade, paródia esta extraída da 9ª sinfonia de Beethoven, e tinha um trecho mais ou menos assim:

Foi lá na Piedade

que o barbudo teve<

o seu papel.

Foi lá na Piedade

que o barbudo nem

olhou pró céu.

Lá não tinha o

marteleto,

mas tinha o frei

Rosário e Josina...

Em 1969, por sugestão de Magalhães Gomes, realizou-se na UFMG uma "Reunião sobre escolha de sítio", onde foi feito um balanço geral de todo o trabalho. Ao seu final, envoltos num ambiente de euforia, os observadores saíram cantando o "Hino", que recordava as estórias daquela estação experimental.

 
Menu
Introdução
I. Dª Zininha Wykrota

XVI. Da SEA e de César Lattes nasce o CEAMIG
XVII. A Construção
XVIII. O CEAMIG e a Piedade
XIX. A Inauguração do OAP
XX. Histórias da Piedade e Mateus Leme
XXI. Muniz Barreto, este "Homem da Lua"
XXII. O Centro e suas sedes
XXIII. A volta dos Mistérios
XXIV. Novamente desfeito o sonho
XXV. O Museu de História Natural
 


Sugestões sobre este site: ceamig@ceamig.org.br