
Observatório Wykrota

Centro de Estudos Astronômicos de Minas Gerais
NOSSOS ANIVERSARIANTES
Feliz aniversário, CEAMIGO!
Quem somos
O CEAMIG

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Diretor Financeiro

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Diretor Científico

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Conselheiro

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Conselheiro

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Conselheiro

Eta Carinae - Cortesia: NASA, ESA and the Hubble SM4 ERO Team
O CEAMIG congrega há anos os amantes da astronomia do Estado de Minas Gerais, e é o polo de concentração de todos os amadores da região.
- É uma entidade de utilidade pública, sem fins lucrativos, para o estudo e a divulgação da astronomia e ciências afins, mantida pelo seu quadro de sócios.
- Nesta página você encontrará registros da nossa História , as características e localização dos nossos Observatórios e de entidades associadas, a descrição dos Trabalhos feitos pelos sócios, bem como um programa de suas Atividades.
- Convênios e acordos de cooperação permitem o desenvolvimento de vários Projetos e Campanhas Observacionais , além da formação de Grupos de Trabalho e oficinas como o grupo ATM. Na Galeria você poderá encontrar fotos dos astros, equipamentos, eventos e star-parties realizadas.
- Promovemos reuniões dos sócios todas as tardes de sábado, para discussão da astronomia, cursos, workshops, observação dos astros, construção de telescópios ou simplesmente para bater um papo. Faça-nos uma visita!
O CEAMIG promove reuniões mensais com palestras e seções de observação destinadas ao público, em um de seus observatórios. Veja o programa na Área do Associado. Grupos de escolares podem agendar palestras e seções de observação em datas especiais usando nosso Projeto Astronomia na escola.
NOTÍCIAS
Acompanhe o que acontece
HISTÓRIA
A história do CEAMIG
A história do CEAMIG se confunde com a história da astronomia em Minas Gerais. Seria muito difícil colocar em meia dúzia de parágrafos todo o cenário que levou à criação (e recriação) do CEAMIG. No texto que se seque, escrito por Antônio Rosa Campos, você poderá perceber o que quizemos dizer no parágrafo anterior. Embora o texto seja grande, a leitura é gostosa e interessante.
- I. Dª Zininha Wykrota
- Desde criança, Dª Maria da Conceição de Carvalho Lanna Wykrota, sempre fora uma apaixonada pelos encantos e mistérios do firmamento.
- Conta-nos Dª Zininha, que quando ainda adolescente e cursava a 4ª série primária, já eram passados aos alunos pequenos conhecimentos sobre astronomia, que eram ministrados pelas professoras de sua escola, mas ainda assim era uma coisa superficial, visto também os ínfimos conhecimentos dos mestres de ensino rural primário daquela época.
- Mas Dª Zininha uma pessoa de um meio rural, criada em fazenda, estava habituada a namorar o céu estrelado, ficando a admirar o céu e os encantos do firmamento, tentando assim compreender o real motivo de uma série de estrelas cintilarem no céu noturno, e as estrelas cadentes que passavam rasgando a cortina da abóbada celeste.
- Após algum tempo, Dª Zininha teve os primeiros contatos diretos com a Geografia, sendo que através do estudo de Cosmografia, eram-lhe ministrados conhecimentos mais específicos de Astronomia.
- Ela no ímpeto de ver respondidas as suas interrogações, começa a entender as fases da lua, o movimento dos planetas e o porque da queda dos meteoritos, mas as informações da Cosmografia ainda eram insuficientes para saciar a sede de conhecimentos de Dª Zininha, ela queria aprender mais e mais, saber sobre as coisas que se faziam mistérios para ela.
- Passados mais alguns anos, Dª Zininha veio a se casar com o jovem e promissor Odontologista Henrique Wykrota que, além de marido, fora um companheiro dedicado, e além de tudo fiel aos anseios de sua esposa, cujas aventuras em prol da astronomia no estado de Minas Gerais são "... dignas de um Saint-Exupery..." como cita o professor Luiz Muniz Barreto, que é outra importante pessoa a quem o desenvolvimento da Astronomia em nosso estado muito deve.
- Mas voltando ao desenrolar de nossa história, Dª Zininha passou a residir em Belo Horizonte onde ela veio a conhecer o professor Otto Cirne, que sabendo ser ela uma apaixonada pela Astronomia, veio a presenteá-la com um livro sobre o assunto " Mistério do Firmamento".
- Não houve presente melhor para ela, pois passava o dia lendo o livro e a noite a colocá-lo em prática. Outro problema, não havia naquela época instrumentos astronômicos em Belo Horizonte, mas ela não perderia as esperanças de conseguir mais informações.
- Transcorria o ano de 1947, e as pessoas amigas do casal Wykrota, sabendo do interesse de Dª Zininha pela astronomia, os indicaram para receber uma comissão.
- II. O Obs. Nacional e o Eclipse de Bocaiúva
- "... Em 20 de maio de 1947 ocorreria um eclipse total do sol cuja faixa de totalidade cortaria vasta região do Brasil, e cuja duração de 5,2 minutos era muito boa para certos tipos de observação..."(...op. cit. P .213)
- "... Já havíamos perdido a oportunidade de executar trabalhos em 1940 e 1944, dentro do pesadelo da 2ª guerra mundial, quebrando a antiga tradição de observar os eclipses totais no território Brasileiro, como ocorrera em 1858, 1865, 1912 e no famoso eclipse de Sobral, em 1919..." (...op. cit. P. 213)
- "... Aquele eclipse era muito importante para a astronomia internacional pois, após a guerra era a primeira oportunidade de se observar um eclipse de grande duração, e que seria visível em regiões com boas qualidades logísticas. George Van Biesbroeck, do Observatório de Yerkes, EUA, planejava observar o efeito einstein,..." o que "... Andrew Crommelin e C.R. Davidson..." já fizeram em 1919, em Sobral - CE. (...op. cit. P. 213)
- "... Uma numerosa e bem equipada missão Russa, e outros grupos de vários países viriam também ao Brasil, a missão de Yerkes se localizaria em Bocaiúva, Minas Gerais, o que fez com aquele eclipse fosse denominado como " Eclipse de Bocaiúva... ". (...op. cit. P. 213/214)
- "... O orçamento do Observatório Nacional era pequeno e só era suficiente para efetuar o pagamento do seu quadro de pessoal e imprimir as efemérides. Atendendo aos apelos de Domingos Fernandes Costa, o então diretor do ON, Sebastião Sodré da Gama, submeteu em janeiro ao Ministério da Educação e Saúde um pedido de verba extraordinária de duzentos mil cruzeiros, convertendo este valor em cruzeiros reais,..." hoje teríamos cerca de R$ 2.000,00 o que convenhamos, "... não era muito, pela participação do país em um evento científico histórico..." (...op. cit. P. 214)
- ... O Observatório Nacional já possuía uma tradição internacional e na ocasião, era a única instituição científica brasileira capaz de participar da observação do eclipse. O processo de obtenção de crédito extraordinário andava lento pelos corredores e, afinal foi bater às portas do congresso..." (...op. cit. P. 214)
- "... Por livre iniciativa, um grupo de industriais resolvera financiar o observatório no empreendimento, para isso, entretanto, havia necessidade de autorização do congresso. O projeto de doação da verba correu célere, e alcançou o pedido de crédito extraordinário..." (...op. cit. P. 214)
- "... Um Deputado que já obstruíra o pedido de crédito extra para o ON. por várias vezes, fizera um belo e irresponsável discurso, afirmando que o governo e o congresso não precisavam de esmolas de particulares para financiar um empreendimento científico. E obstruiu mais uma vez..." ( ...op cit. P. 214)
- "... A título de curiosidade, a mesma autoridade tempos depois fora expulsa do congresso, pois tivera publicado na revista " O Cruzeiro " uma fotografia sua só de cuecas...." (...op. cit. P. 214)
- "... Lélio Gama, vendo que Domingos Fernandes Costa estava cada vez mais sem esperanças de fazer algum trabalho científico sobre o eclipse, resolvera fazer um trabalho de alta representação científica. Ele fora a Vassouras - RJ e lá ele medira a variação do campo geomagnético em um intervalo que compreendia o eclipse. Nasceu daí o trabalho " Magnetic Effects observed at Vassouras, Brazil, during the solar eclipse of May 20,1947 " que publicado no " Journal of terrestrial magnetism and electricity " seria a contribuição do Observatório Nacional e do próprio país a ombrear-se com os melhores resultados internacionais..." (...op. cit. P. 216)
- " ... A verba extraordinária foi, finalmente, votada e aprovada, porém dois dias depois do eclipse. Domingos Fernandes Costa, com um sorriso de amarga ironia disse então: " .. Era o caso de termos transferido o eclipse e, no final das contas, a culpa é da astronomia que é mais rígida que a burocracia... ". (...op. cit. P. 215)
- III. O Eclipse de Bocaiúva
- "... O apoio oficial afastava o Observatório Nacional do evento, e a astronomia mineira se fazia presente. O casal Wykrota iria cobrir ".. as falhas da burocracia oficial..." (...op. cit. P. 336)
- Foi um dos grandes passos da astronomia em nosso estado. Havia uma enorme movimentação na sociedade Belo-horizontina da época. Henrique e Zininha Wykrota não só foram designados para acompanhar a comissão Russo-finlandesa como também, assessoravam e forneciam a devida assistência a outras comissões como as do Canadá, Estados Unidos e Suécia.
- Dª Zininha seguiu acompanhando uma comissão de astrônomos para a cidade de Araxá, mas Dr. Henrique, por ser fluente em vários idiomas, funcionou como um elo de ligação entre as comissões espalhadas pelo estado
- Dr. Henrique, alguns dias antes de ocorrer o eclipse, fora a Bocaiúva e Montes Claros numa missão de suprimento e informações acompanhando de dois astrônomos. No retorno a Belo Horizonte, o piloto da Força Aérea Brasileira que transportava Dr. Henrique tinha necessidade de abastecer o avião, um biplano Waco, mas pelas dificuldades de navegação e serviço de apoio e proteção ao vôo daquela época, o piloto perdeu sua orientação de vôo, e conversando com Dr. Henrique fez uma passagem rasante entre alguns eucaliptos, na qual identificaram a cidade de Várzea da Palma. Novamente nivelaram o vôo e tentavam a todo custo pousar no aeroporto da Pampulha.
- O Jovem Odontologista, que já tinha motivos de sobra para ter medo de avião temia agora não completar a missão e deixar Dª Zininha só em sua jornada. Felizmente a audácia do jovem aviador brasileiro fez com que o biplano pousasse em Belo Horizonte, ainda que, segundos após tocarem o solo, todo o combustível da pequena aeronave se esgotara por completo.
- "... Manhã de 20 de maio de 1947: sem verba e sem Sol pois chovia copiosamente no Rio de Janeiro, o observatório nacional não saíra de sua sede. (...op. cit. P. 215).
- Em Araxá o tempo amanheceu encoberto por espessas camadas de nuvens, o que também fora um lamentável desgosto para os cientistas que ali estavam.
- Mas nem tudo estava perdido, na hora prevista pelos astrônomos para o início do fenômeno, Sol e Lua cumpriam fielmente o seu papel, e os astrônomos que se localizavam em Bocaiúva realizavam de forma esplêndida o seu trabalho.
- De retorno a Belo Horizonte, o casal Wykrota recebeu em sua casa a visita da comissão Russo-finlandesa. Posteriormente fora oferecido pelo governo do estado uma recepção de comemoração pela passagem do evento e foi sugerido pelos astrônomos a criação de uma associação de astrônomos amadores. Foi então assim que entre festa e champanhe fora criado o que seria a primeira entidade astronômica do estado, a AAA. Em contra partida, a título de presentear a recém-nascida associação, o presidente da Academia de Ciências de Moscou doou um telescópio Maksutov a Dª Zininha, e a comissão de astrônomos finlandeses doou uma luneta, mas por infelicidade a recém-nascida instituição desfez-se tempos mais tarde, devido a falta de empolgação de seus participantes que apenas foram levados a fundá-la pela onda momentânea provocada pelo eclipse de 1947.
- Mas esta desilusão não foi o suficiente para desencantar Dª Zininha, que após maio de 1947 retomou sua vida nos afazeres de esposa e também no que tange aos ideais astronômicos.
- Desta época em diante, Dª Zininha fazia reuniões com jovens interessados em astronomia usando para isso a sala de estar de sua própria residência.
- Nesta época aparece em sua residência o estudante secundarista Marcos Magalhães Rubinger, que teria um papel importante ao lado de Dª Zininha, Dr. Henrique e outros que com o tempo iriam se agrupar para fundar o Centro de Estudos Astronômicos "César Lattes" de Minas Gerais.
- IV. Os mistérios do Firmamento
- Dª Zininha e Marcos Magalhães Rubinger já tinham a idéia de formar uma entidade astronômica em Minas Gerais, e lavados pelo espírito da aventura, continuaram a fazer suas reuniões na residência de Dª Zininha com um número cada vez maior de participantes.
- Na mesma época, em 1952, era levado ao ar pela rádio Mineira o programa Mistérios do Firmamento, dirigido e apresentado pelo Dr. Heros Campos Jardim, sob o pseudônimo de Heros Eduardo, sendo transmitido às terças e quintas feiras às 21:30 horas, tendo nestas noites uma excelente audiência em todo o estado.
- Não era um programa cansativo de se ouvir, os programas eram aula onde a colaboração de radioatores era valiosa pois os mesmos faziam perguntas pré-determinadas e Dr. Heros as respondia no ar para que o programa pudesse ser ao mesmo tempo ilustrativo e educativo. Em determinado dia o assunto era o sistema solar, que obedecia uma ordem crescente entre os planetas internos e depois os planetas externos a terra era o último dos planetas a ser falado para que os radiouvintes pudessem ter uma idéia mais detalhada do sistema Terra-Lua.
- Certa vez Dr. Heros teve uma idéia um tanto quanto original para sua época; ele e os radioatores criaram uma viagem imaginária à lua, para que o público pudesse confortavelmente em seus lares sentir mesmo que emocionalmente, os fatores que pudessem encontrar durante a viagem, como por exemplo, falta de gravidade, relevo lunar e uma idéia da terra como seria vista do espaço, tudo ao som da música que mais tarde veio a se transformar no prefixo do programa, A Cavalgada das Valquírias.
- Em uma daquelas noites Dª Zininha, ao final do programa, telefonou para os estúdios da rádio para manter um contato direto com Dr. Heros, a fim de chamar-lhe a atenção sobre algo que havia ficado não muito claro aos ouvintes na sua sala de estar. Dr. Heros marcou um encontro com estas pessoas onde descobriu que, como ele, ali existiam inúmeras pessoas que amavam a astronomia, e assim passou a pensar na criação de uma entidade oficial de astronomia em Minas Gerais, e o programa Mistérios do Firmamento passou a ter uma colaboração direta dos jovens que se reuniam na residência de Dª Zininha.
- V. O Centro de Estudos Astronômicos César Lattes de Minas Gerais
- Levados agora pelo entusiasmo, Dª Zininha Wykrota, Marcos Magalhães Rubinger, Henrique Wykrota, Heros Campos Jardim e outras pessoas que freqüentavam as reuniões na residência de Dª Zininha, fundaram o Centro de Estudos Astronômicos César Lattes de Minas Gerais, nome este dado em homenagem ao jovem físico brasileiro que certamente seria um prêmio Nobel de física, pois vinha fazendo importantes trabalhos na descoberta do Meson PI.
- Mas talvez os problemas de uma nação que vinha à deriva das outras mais desenvolvidas, fizeram com que César Amansueto Lattes não fosse agraciado com o prêmio, o que seria justo. E esta foi uma simples homenagem que o pessoal mineiro amante da Astronomia prestou ao físico César Lattes.
- O Centro tinha como emblema a figura simpática de um velhinho de longas barbas brancas, de pé sobre a terra, com uma luneta a observar a abóbada celeste e com os dizeres em latim que traduzidos para o português, significam "Como a terra me parece pequena quando olho para o céu".
- A sala de Dª Zininha já não comportava mais o número de sócios e de pessoas que ali se dirigiam para assistir as palestras ministradas pelos que já tinham um maior conhecimento, e mais uma vez aparece em nossa história a figura encantadora de Dr. Henrique Wykrota, que abriu mão de uma sala que era de sua propriedade no 15º andar do edifício Acaiaca.
- Os problemas estavam só no começo: na sala não haviam cadeiras nem mesmo material para uso didático. Solicitaram então uma audiência com o governador de Minas, o dadivoso Dr. Juscelino K. de Oliveira, e solicitaram a ele um auxílio para a aquisição das cadeiras e do material didático necessário para ser ministradas as palestras pelo pessoal do Centro. Ele imediatamente, para surpresa de todos que ali se encontravam escreveu de próprio punho uma autorização à Secretaria das Finanças do Estado liberando a verba para o Centro.
- Mas um outro problema, desta vez um pouco mais difícil que a audiência com o governador, era que a Secretaria das Finanças não dispunha da verba no momento. E foram dias incansáveis nos quais Dr. Henrique passou a transitar pelos corredores daquela secretaria. Finalmente o dinheiro foi liberado, o que foi motivo de grande alegria para os sócios que, apesar do tempo que também não fora muito longo, puderam sentir a magnanimidade e benignidade de quem seria mais tarde o presidente que esta nação passaria a respeitar e admirar pela sua visão de progresso e desenvolvimento.
- Paralelamente o pessoal associado ao Centro em número cada vez maior, faziam observações astronômicas em um local na época denominado como Pico, onde hoje é a praça Milton Campos, e na região da Pampulha que ainda não existia, logo após sua inauguração, a poluição do lago e a poluição luminosa hoje existentes no contorno da lagoa e áreas adjacentes, que tornaram difíceis as observações naquele local. O Centro não se limitava só a estas atividades. O pessoal também fazia conferências em colégios, e o Centro veio com isto a crescer e logo a sala do edifício Acaiaca não mais comportava o número de associados.
- Assim, mais uma vez os sócios conseguiram contornar o problema, através da ajuda do Dr. Aluísio Leite Guimarães, que era diretor-presidente do Banco Comércio e Indústria. O Centro teve sua sede transferida para o auditório do Edifício Imeco, pois era inconcebível aos olhos do ilustre executivo que sua amada ciência e os demais colegas se vissem prejudicados com tal problema.
- É justamente nesta época que aparecem, no Centro de Estudos Astronômicos César Lattes de Minas Gerais, Eduardo Janot Pacheco, Caio Márcio Rodrigues, Rodrigo Dias Társia e Bernardo Riedel.
- Dr. Heros, através de seu programa, e o restante do pessoal, através de suas conferências em colégios e escolas na capital, faziam crescer a passos largos a astronomia em Minas Gerais e aqueles jovens mais tarde viriam a se transformar em mestres e doutores do mais alto nível em astronomia, não só em nosso Estado mas em todo o Brasil.
- VI. Um sonho que ainda não se tornou realidade
- O posto observacional instalado na praça Milton Campos não comportava o pessoal que ali se dirigia para poder observar o céu em noites estreladas, e foi desativado, devido a precariedade de suas instalações e a falta de segurança do local, tanto que, em uma certa noite um fato tanto o quanto desagradável veio a ocorrer. O pessoal de nosso centro e as demais pessoas que ali se encontravam fora vítimas de um assalto à mão armada por um elemento que por ali transitava. Mas uma vez a ajuda do maior astrônomo do Universo veio a fazer com que o desafortunado larápio não levasse nada mais do que o dinheiro dos que ali estavam presentes, deixando todo o equipamento, assim como tudo o mais que ali estava intacto.
- Com isto então nascia o desejo de ter em Belo Horizonte um planetário para atender a população, haja visto que com a fundação do centro, os programas de rádio e as palestras colegiais o interesse do público aumentava consideravelmente em torno da astronomia.
- Começaram-se assim contatos com a Zeiss para o fornecimento do equipamento. A Zeiss ofereceu uma viagem à Alemanha para membros do governo, Magalhães Pinto, que também havia manifestado enorme interesse no equipamento, numa reunião ficou mais ou menos acertado que provavelmente seria instalado o planetário no bairro da Gameleira.
- Estes representantes do governo embarcaram para a Alemanha, mas ninguém viu chegar equipamento algum em solo mineiro e o mesmo acabou por não ser instalado na capital mineira, ninguém tomou conhecimento do que teria ocorrido na Alemanha com os respectivos compradores e vendedora; e aqueles por sua vez retornaram a Belo Horizonte sem o tão sonhado Planetário.
- Após este fato ter ocorrido, foi tentado com o novo governador do Estado, os meios para tentar trazê-lo para Belo Horizonte, mas este não demonstrou interesse na aquisição do referido equipamento, afirmando que na terra haviam coisas mais importantes que no céu e que deveriam ser tratados com mais urgência, e esquecendo que ele próprio sempre fora um aficionado pela música.
- VII. A lei de Utilidade Pública
- Visando um plano de maior ação, a entidade foi reconhecida como de utilidade pública conseguindo isto com a ajuda do Sr. Gilberto Medeiros, esta lei foi publicada no Minas Gerais de 30 de dezembro de 1956, ano LXIV, n.º 293, 1º caderno executivo, P. 1, colunas 2,3. O qual consta a seguintes transcrição:
- " Lei n.º 1521 de 29/12/1956
- Declara de utilidade pública o Centro
- Estudos Astronômicos " César Lattes " de Minas Gerais.
- O povo do estado de Minas Gerais por seus representantes decretou e eu, em seu nome, sanciono a seguinte lei:
- Art. 1º - É declarado de utilidade pública o Centro de Estudos Astronômicos " César Lattes " de Minas Gerais, fundado nesta capital, a 4 de Março de 1954.
- Art. 2º - Revogadas as disposições em contrário, entrara esta lei em vigor na data de sua publicação.
- Mando, portanto, a tôdas as autoridades a quem o conhecimento execução desta lei pertencer, que a cumpram e façam cumprir, tão inteiramente como nela se contém.
- Dada no Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte aos 29 de Dezembro de 1956.
- José Francisco Bias Fortes
- José Ribeiro Pena
- Após sancionada esta lei, nosso Centro já podia respirar mais aliviado pois o reconhecimento fora justo, e isto visava também a proteção da entidade, tendo em vista também o seu reconhecimento jurídico.
- VIII. Os Mistérios na TV
- O Centro já possuía um programa de atividades muito intenso perante o grande público mineiro, mas mesmo assim seu programa de trabalho era mantido.
- Naquela época em Belo Horizonte, uma emissora de televisão recém-criada, era responsável pelos índices elevados de audiência no grande seio da família mineira: era a saudosa TV Itacolomi.
- Através de seu diretor artístico, Dr. Francisco Barroca Marinho, que também produziu o programa Mistério do Firmamento na rádio Mineira, fora produzida e adaptada uma série de programas para a televisão.
- O programa na televisão, assim como no rádio, era narrado pelo Dr. Heros Campos Jardim, que mais tarde seria substituído por Gilberto Freire. Obedeciam uma seqüência básica que dava a impressão de ser um curso regular. Era um veículo de comunicação, informação e divulgação da astronomia a nível popular, inspirado no projeto que Roquete Pinto havia desenvolvido no Rio de Janeiro.
- O programa era levado ao ar pela TV Itacolomi uma vez por semana, no horário de 21:00 às 21:15 e contava com a valorosa ajuda do Sr. Geraldo Lessa, que pesquisava em bibliografias astronômicas os assuntos e as fotografias a partir das quais eram produzidos os slides que eram projetados. Ao fundo, a espetacular narração do Dr. Heros e Gilberto Freire, com o bom timbre de voz que sempre os caracterizaram, fizeram com que o programa tivesse enormes índices de audiência.
- O programa ficou no ar por quatro meses aproximadamente, e só foi retirado do ar, devido a exaustão que acarretava a sua produção, e também devido a necessidade da rede de TV apresentar outros programas na mesma faixa de horário.
- Sem sombra de dúvida este foi mais um fator que veio a contribuir não só para a divulgação do Centro de Estudos Astronômicos César Lattes de Minas Gerais, como também para o desenvolvimento da astronomia em Minas.
- IX. O meteorito de Ibitira
- O Centro já contava com uma popularidade enorme dentro e fora do estado, correspondendo com entidades co-irmãs já haviam sido criadas e outras que começavam a iniciar suas atividades no Brasil e no exterior.
- Foi então que um dos associados presenciou um fato até certo ponto comum: a queda de um meteorito. Isto fez com que a diretoria do Centro designasse uma comissão para a busca da rocha que deveria então existir.
- A triangulação foi feita pelo Dr. Zair Dantas, e os estudos foram efetuados por Carlos Junqueira e Marcos Magalhães Rubinger, que ficaram encarregados dos estudos posteriores, o que deram origem ao relatório que passo a transcrever-lhes:
- "...AS PRIMEIRAS INFORMAÇÕES - A primeira informação sobre o fenômeno do dia 30.06.57 foi dada por um sócio desta entidade. O referido associado que se dirigia para Belo Horizonte, teve sua atenção voltada para enorme esteira luminosa na direção oeste. Imediatamente o centro tomou uma série de providências, dando nota aos jornais pedindo informações a todos que presenciaram o fenômeno além de enviar circulares para as prefeituras do interior num raio de 100 Km. de Belo Horizonte.
- DETERMINAÇÃO DO LOCAL DE CULMINAÇÃO DO BÓLIDO - Tendo recebido um total de 32 cartas da capital e do interior, conseguimos determinar aproximadamente a trajetória do bólido e concluímos que ele, possivelmente, culminaria no oeste de Minas. Chegamos a esta conclusão depois de analisarmos meticulosamente as cartas recebidas, que se encontravam arquivadas no Centro. As informações da cidades localizadas ao norte davam como direção nordeste, as do sul, sudeste, e as localizada a leste, oeste.
- PROPAGAÇÃO, PARA DETERMINAÇÃO DA QUEDA - Levando em conta que a propagação sonora (BARREIRA SUPERSÔNICA) ocorre numa área relativamente pequena (máximo de 100 Km); e que a esteira luminosa resultante da queima do bólido em contacto com a atmosfera mais densa (quando este alcança mais ou menos 150 à 130 KM do nível do mar, segundo alguns autores), ou resultado da ionização das partículas encontradas em seu caminho (segundo as mais modernas teorias) poderia ser vista a uma distância incalculável. Considerando portanto a primeira resultante do fenômeno (o barulho) como mais da culminação do bólido, rumamos para a vizinha cidade de Sete Lagoas, e de lá, centro da operação, traçamos novos planos.
- CAÍDA DO BÓLIDO, PROVAVELMENTE, ENTRE MARTINHO CAMPOS E PAPAGAIO - Da cidade de Sete Lagoas, mais precisamente da fazenda do Pacu, estabelecemos o seguinte roteiro: do local onde um grupo de pescadores viram a queda do misterioso objeto, traçamos uma seta de papel. Por outro lado, seguia num avião da " Continental ", o Sr. Mário Hauck, conhecedor da região que seguindo a direção da seta, procuraria os possíveis danos causados pela queda do bólido (cratera, árvores queimadas ou partidas). Depois de fazer pesquisas na região durante uma hora sem nada encontrar, desceu o avião em Martinho Campos - MG, onde colheu informações. fazendo aterrissagem na estrada, perto de onde estávamos, o aviador deu-nos ciência do que conseguiu saber em Martinho Campos. Segundo informações lá conseguidas, a estranha " bola de fogo " caíra na Fazenda das Mamonas. Seguimos para aquela cidade.
- EXPLODIU O BÓLIDO EM IBITIRA - Chegando em Martinho Campos, rumamos para a tal Fazenda das Mamonas, onde segundo informações prestadas ao aviador da continental, caíra o bólido, Infelizmente a informação era falsa, mas estávamos não muito longe do local. Colhemos informações com o filho do fazendeiro e lavradores, todos davam a mesma direção, afirmando que não viram o fim da esteira luminosa, tendo ouvido forte barulho, semelhante ao rolar de latas pela calçada ou trovejar prolongado. A direção dada era de Ibitira, distrito próximo. Seguimos para o local. Neste lugarejo, conversamos com o agente da RMV e este funcionário prestou as decisivas informações. O ferroviário juntamente com todos os habitantes do povoado, observaram o fenômeno do dia 30 de junho, temerosos devido principalmente ao barulho. A tão citada esteira luminosa, a princípio reta e depois sinuosa não foi vista desta forma em Ibitira. De lá ponto de convergência do meteorito, a aparência foi simplesmente de uma bola de fumaça que começou a desenvolver em círculos concêntricos, como uma espiral da esteira de fumo para os que observaram de grande distância. Infelizmente não conseguimos dados angulares precisos que nos permitissem determinar a altura da explosão. Contudo, levando em conta as observações feitas em Belo Horizonte e Ibitira, podemos estimá-la em aproximadamente 11 a 13 KM (segundo observadores locais a explosão ter-se-ia dado em altura das nuvens, provavelmente cirrus).
- Estava determinado o lugar onde caiu o bólido, tendo explodido a mais ou menos a 13 KM lançando fragmentos pelos arredores. Tentamos procurar estes prováveis fragmentos, tendo sido uma busca infrutífera, porque o lugar, segundo informações de onde teria caído algum fragmento, era um cerrado de difícil busca. Voltamos à Belo Horizonte.
- ENCONTRADO POR UM LAVRADOR O FRAGMENTO METEORÍTICO. - Voltamos para Belo Horizonte, convictos da existência de fragmentos do bólido em Ibitira. Chegamos mesmo a fazer uma caravana, que não seguiu para o local por falta de transporte. No dia 03/08/57 seguíamos novamente para Ibitira. Quando atravessamos o Rio Pará, ficamos sabendo que um lavrador, quando apanhava lenha numa capoeira, viu uma pedra entranha que lhe despertava a curiosidade. Receoso, apanhou-a entregando ao boticário local. Em Ibitira procuramos o lavrador e com ele fomos ao local onde a pedra fora encontrada. A aparência superficial do fragmento meteorítico é o de um pedregulho com cerca de 2,5 Kg com uma camada brilhante exterior e poucos poros. A rocha apresenta vacúolos de dimensões milimétricas, com aspecto de geodo, onde às vezes ocorrem minerais opacos.
- Belo Horizonte, 30 Agosto de 1957
- AA CARLOS JUNQUEIRA ".
- X. Do marasmo surge a SEA
- O Centro de Estudos Astronômicos César Lattes de Minas Gerais, após enorme fase de ascensão, caiu numa fase de crise, fase esta atribuída ao desgaste de seus sócios, que também tinham suas atividades principais, como o trabalho, a família e as atividades estudantis uma vez que a maior parte dos sócios eram universitários.
- A sede do edifício Imeco, já não mais existia, e houve uma baixa substancial nas atividades do Centro.
- Eduardo Janot Pacheco, Caio Márcio Rodrigues e Rodrigo Dias Társia resolveram então, para dar continuidade aos trabalhos desenvolvidos por eles, fundar uma sociedade que iria funcionar quase nos mesmos parâmetros do Centro. Surge então a SEA (Sociedade de Estudos Astronômicos) que teve uma sede na Rua dos Carijós, no edifício Brasília, num apartamento cedido pelo pai de Caio Rodrigues, onde os sócios se reuniam e distribuíam tarefas entre si.
- Os sócios da S.E.A eram divididos em duas categorias:
- Sócios Efetivos: Era o pessoal que desenvolvia os trabalhos como por exemplo Astronomia, Física, Evolução Estrelar, História da Astronomia, etc...
- Sócios Aspirantes: Participavam das observações realizadas pelos sócios efetivos e tinham o direito a assistir as reuniões e seminários feitos pelo pessoal da sociedade.
- A S.E.A. era uma sociedade voltada para o estudo num nível mais alto de Astronomia. Por isto esta sociedade tinha um número reduzido de sócios, mas os que ali estavam eram jovens do mais alto nível possível, foram criadas divisões de trabalho, e havia uma pessoa que ocupava o cargo de Diretor Científico e era o responsável pelos trabalhos.
- Uma vez por ano, com o objetivo de angariar verba para a aquisição de livros e assinaturas em revistas especializadas, era realizado um curso externo ministrado na Secretária de Segurança Pública.
- Nos anos de 1964 e 1965 o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) expedia a licença para a realização dos cursos e enviava para assisti-los dois agentes, para verificarem se as aulas não tinham objetivos políticos. Isto demonstrava claramente o inseguro período político que o país atravessava naquela época. No entanto um dos agentes para a surpresa de muitos acabou por ficar entusiasmado por astronomia, tornando-se também sócio da SEA.
- Após este conturbado período, os cursos foram transferidos para o auditório da Secretaria de Saúde e da Escola de Arquitetura. Houve também uma fase em que as palestras foram ministradas no auditório do BEMGE (Banco do Estado de Minas Gerais), na Av. Amazonas, esquina com rua Rio de Janeiro.
- XI. O Brasil e a União Astronômica Internacional
- Por volta do ano de 1953, a astronomia Brasileira estava em crise acentuada, mas já havia sido criado o CNPq, e que era representada em âmbito internacional pelo Observatório Nacional.
- Em 1961 houve uma assembléia geral da União Astronômica Internacional, realizada na cidade de Berkeley, na Califórnia, que foi marcada pelo retorno do Brasil ao seio da União.
- Em 1963, já começava a esboçar-se a possibilidade de instalar no Brasil um grande observatório. Antevia-se a necessidade de fazer astronomia em um nível muito diferente daquele que era feito até então.
- Existia nesta época outro centro de pesquisa astronômica no Brasil, o I.A.G da Universidade de São Paulo, tendo como seu diretor o professor Abrahão de Moraes.
- O professor Abrahão de Moraes, indignado com a situação, após tomar conhecimentos dos fatos que levaram o País a ser desligado da IAU, solicitou a interferência do CNPq para que o Brasil fosse reintegrado à União.
- Para entendermos melhor os motivos, vamos a esta história:
- O Brasil na época do eclipse de 1947 (Bocaiúva) já devia algumas cotas e veio a cobrança. O Dr. Sebastião Sodré da Gama, então diretor do Observatório Nacional, solicitou ao Ministério da Educação e Saúde Pública que efetuasse o pagamento. Como era normal, o pedido foi enviado ao ministério da Fazenda, e este por sua vez, consultou o Ministério das Relações Exteriores. Este deu um parecer contrário, informando que o Brasil já era representado no exterior por suas embaixadas e consulados, e não era necessário uma representação científica, e com isto o Brasil foi excluído por não haver efetuado o pagamento da taxa anual.
- XII. Nos Observatórios americanos o OAB tornar-se-ia realidade
- Durante a viagem a Berkeley por ocasião da 11ª assembléia geral da IAU, realizada entre 15 a 24 de agosto de 1961, Luiz Muniz Barreto e Abrahão de Moraes, visitaram os observatórios de Monte Palomar e Mont Wilson e lá, começaram a planejar a instalação de um grande observatório no Brasil.
- No ano de 1964, ocorreria a 12ª assembléia geral da IAU em Hamburgo, Alemanha Ocidental. Ali seria a ocasião propícia para contatar os astrônomos dos centros mais adiantados e discutir os planos de desenvolvimento da astronomia no Brasil. Muniz e Abrahão mantiveram contato com o Dr. André Danjon, e este designou uma comissão chefiada pelo Dr. Jean Delhaye e constituída pelos doutores Roger Cayrel e Jean Rösch. Pouco depois esta comissão desembarcava no Rio de Janeiro para estudar a possibilidade da instalação do observatório e também a elaboração de um programa de formação de jovens em astrofísica.
- O encarregado pela escolha de sítio de instalação deste observatório seria o Dr. Jean Rösch, que era então diretor do Observatoire du Pic du Midí na França.
- O Dr. Lélio Gama, diretor do ON, imediatamente colocou o Dr. Luiz Muniz Barreto a disposição de Abrahão de Moraes, e este encarregou Muniz de iniciar as pesquisas de escolha de sítios para a instalação do futuro OAB, juntamente com Jean Rösch.
- Muniz Barreto estava radiante, pois assim via tornar-se realidade um sonho que vinha desde a época de Domingos Fernandes Costa.
- Fora conseguido através do Ministério da Aeronáutica um avião Beechcraft para inspeção aérea, que compreenderia o norte e este do estado de São Paulo e o estado de Minas Gerais.
- XIII. A bordo do Beechcraft nasce a Estação da Piedade
- "... Jean Rösch demonstrava um temperamento fora do comum, alterando fases de um otimismo avassalador com outras de depressão aparente. O seu trato era contudo, sempre afável e dinâmico... "... A bordo do Beechcraft Rösch demonstrou uma explosão de entusiasmo ao observar a linda silhueta do Pico da Piedade, a poucos quilômetros de Belo Horizonte. Interrompendo a melodia da " Truta " de Schubert... ele exclamou: "Très élegant, très élegant, très joli, c'est une copie de Pic du Midí... " (...op. cit. P. 336)
- Paulo Marques dos Santos, do IAG que também trabalhou com Muniz e Rösch nesta missão, pelo seu conhecimento em meteorologia, " ... chegou a ficar pálido..." quando o major que pilotava o avião, fez uma rasante sobre a montanha. (...op. cit. P. 336)
- Os três já haviam comprovado a " ...grande perícia do piloto quando, no dia anterior...", foram "... obrigados a pousar em Pirapora, cujo o aeroporto estava interditado. Aquele pouso de emergência fora obrigatório em vista do esgotamento do combustível...". (...op. cit. P. 336)
- Fora um amor à primeira vista entre Jean Rösch e a serra da Piedade, em Belo Horizonte, Muniz, Rösch e Paulo Marques já estavam sendo aguardados no aeroporto da Pampulha por Dr. Henrique e Dª Zininha Wykrota.
- Por intermédio de Henrique Wykrota, já estava marcada uma entrevista com o governador Magalhães Pinto. Daquela entrevista, além da promessa sincera do apoio de Minas, obtiveram também a concessão "... de outro Beechcraft, para prosseguir o levantamento aéreo, que cobriu o triângulo e as montanhas do leste e do norte do estado...". (...op. cit. P. 336)
- De retorno a Belo Horizonte, Rösch estava obcecado pelo Pico da Piedade e insistia em visitá-lo. "... Não havia estrada até o topo, somente uma..." vereda tropeira, "... íngreme e pedregosa...". Mesmo assim, subiram aos "... trancos e barrancos...". (...op. cit. P. 336)
- Abrahão de Moraes, lutava contra "... sua obesidade e a falta de fôlego de origem nicotínica,..." para chegar ao ápice, "...suado..." e "...ofegante...", acabou por pegar de Dª Zininha um chapéu de palha para proteger-se do sol, o que ficou gravado na memória de muitos, como uma pitoresca estória da serra da Piedade. (...op. cit. P. 336)
- Do "... alto da montanha..." nossos "alpinistas" eram esperados pelo Frei Rosário Joffily. Juntamente com Rösch, Muniz o casal Wykrota e Abrahão de Moraes subiram também alguns sócios do Centro e da SEA. (...op. cit. P. 336)
- Ainda em Belo Horizonte, ficou tudo combinado para a instalação de duas estações experimentais, uma em Piedade e a outra em Mateus Leme, para serem operadas pelos jovens amadores de astronomia em nosso estado.
- XIV. O Grupo de pesquisas
- O fato é que o pessoal que fora planejado para a realização dos trabalhos não possuía conhecimentos de Meteorologia.
- É então que Paulo Marques dos Santos, chamado carinhosamente por Muniz Barreto de alto, moreno e simpático, devido aos governadores Magalhães Pinto e Israel Pinheiro simpatizarem com sua pessoa logo de saída, ensinaria àqueles jovens a técnica das observações meteorológicas, a organização de programas, instalação e calibração de instrumentos, dando um exemplo de trabalho e provas de sua grande competência.
- Compunham aquele grupo, Rogério Godoy, Eduardo Janot, Rodrigo Társia, Rogério Rodrigues, Suez Bitencourt, Caio Rodrigues, Hiperides Ateniense e Paulo Bandeira.
- Luiz Muniz Barreto, este " Homem da Lua ", como era conhecido nos gabinetes do Palácio da Liberdade, conseguiu com o CNPq, três bolsas que eram divididas em cotas iguais.
- Paulo Bandeira não tinha participação nestas cotas, pois fora contratado pelo conselho para desenvolver as observações durante a semana, uma vez que os demais membros eram estudantes universitários e só tinham os finais de semana e os períodos de férias para trabalharem nos sítios.
- Dr. Henrique Wykrota, para não deixar o grupo sem um meio de transporte, conseguiu com o Dr. Eliseu Resende, então diretor do DER a concessão de um Jipe, e a construção de uma barraca de madeira, para abrigo contra o mau tempo.
- Frei Rosário Joffily, o encantador mestre da Piedade, fornecia a alimentação preparada carinhosamente por Dª Josina para os jovens que ali ficavam expostos às aguras do frio. Tudo em nome da ciência.
- E assim, os alicerces do desenvolvimento da astronomia no Brasil eram mais uma vez firmados nas alturas das montanhas mineiras.
- XV. Os trabalhos na Serra
- Já orientados por Paulo Marques dos Santos, o grupo estava apto a iniciar os trabalhos. Rogério Godoy revezava-se com Paulo Bandeira nos finais de semana e tinham como substituto Rodrigo Dias Társia.
- Os trabalhos consistiam de observação e anotações horárias dos tipos de nuvens, direção e velocidade do vento, temperatura e umidade relativa do ar, durante dia e noite. Nos horários de folga, o pessoal debatia sobre os mais variados assuntos como física e química ou então, quando subiam a serra mais pessoas, aproveitavam o tempo livre para um joguinho de baralho. Os demais integrantes do grupo operavam a estação de Mateus Leme.
- O grupo era forte e unido, valendo a pena comentar que num período de 365 dias, apenas 7 noites não foram completadas, devido a falta de luz no alto da serra.
- Os membros do grupo reuniam-se para debater os trabalhos semanalmente, com supervisão do Dr. Muniz Barreto e de Abrahão de Moraes. Muniz Barreto vinha periodicamente a Belo Horizonte, e durante muito tempo fez da capital mineira sua cidade de trabalho.
- Os trabalhos foram concluídos em 1969 e por sugestão de Francisco de Assis Magalhães Gomes foi realizada uma reunião sobre a escolha de sítio, na qual foi feito um balanço de todos os trabalhos executados. Estavam presentes o pessoal da UFMG , o IAG , o ON , o CRAAM e os observadores mineiros, e escolheram a Serra da Piedade para a instalação de um observatório piloto do Observatório Astrofísico Brasileiro, que seria instalado posteriormente em Brasopólis, MG. Mateus Leme em meio aos trabalhos foi desativado, pois o pico escolhido não possuía boa altitude e a região era muito seca e existiam muitas queimadas.
- XVI. Da SEA e de César Lattes nasce o CEAMIG
- Após serem encerrados os trabalhos da Piedade, a SEA não mais tinha atividade constante como anteriormente. O Centro de Estudos Astronômicos César Lattes de Minas Gerais também vivia o mesmo problema, pois os trabalhos nas estações para escolha de sítio para o observatório havia consumido todo o tempo disponível do pessoal de ambas as sociedades, e não havia mais motivo para estarem separadas.
- Caio Márcio Rodrigues iria fazer mestrado em Mecânica Celeste, e como ele outros iriam trilhar o mesmo caminho, Eduardo Janot Pacheco, José Teotônio Ferreira, Roberto Vieira Martins, Rogério Rodrigues e Walter Maciel fizeram mestrado e doutorado em astrofísica.
- Rodrigo Dias Tárcia seguiria mais tarde para a França, onde faria doutorado no observatório de Paris, na Seção de Astrofísica de Meudon.
- Foram realizadas diversas reuniões entre os membros da SEA e do César Lattes, na tentativa de chegarem a um denominador comum para a junção das entidades. Ao final desses encartes nasceu o CEAMIG Centro de Estudos Astronômicos De Minas Gerais.
- O CEAMIG, além de continuar com o programa de base que é a divulgação da Astronomia no estado, assumiria também a mesma postura da SEA, tornando-se também centro de pesquisas adotando algumas das suas idéias. Para símbolo da nova entidade poucas modificações foram feitas. Cortaram a barba do velhinho, que ficou com uma aparência nova, retiraram os dizeres escritos em latim e por fim retiraram o nome de César Lattes.
- César Amansueto Lattes era um físico e se sentia uma pessoa estranha à astronomia, e na época não tinha tempo para vir a Belo Horizonte agradecer a homenagem que lhe fora feita. Hoje se sente até um pouco acanhado em aparecer devido ao fato ocorrido.
- Mas tal como Galileu Galilei em 1632, perante a inquisição do santo ofício, perguntou o que poderia ele fazer, "se a terra continua a girar em torno do sol" a ciência continuava e naquela época, o Centro de Estudos Astronômicos de Minas Gerais passava a ser a principal entidade a divulgar a astronomia no nosso estado.
- XVII. A Construção
- Para a construção do Observatório Astronômico da Piedade, fora celebrado um convênio entre o Santuário Nossa Senhora da Piedade, representando a Cúria Metropolitana de Belo Horizonte, a Universidade Federal de Minas Gerais, a Prefeitura Municipal de Caeté e o Centro de Estudos Astronômicos de Minas Gerais.
- As obras foram realizadas pela construtora Diniz Ribeiro Ltda.
- Dr. Henrique Wykrota, por forças do destino, era na época o odontologista que atendia aos governadores do estado, e a verba designada para a construção dos prédios era doada parceladamente, aproveitando os dias de consultas do Senhor Governador. Foi conseguido também através do presidente do honra do CEAMIG a construção de uma estrada que dava um acesso ao topo da serra.
- Rodrigo Dias Társia assessorava o Dr. Magalhães Gomes na compra dos telescópios e o Dr. Muniz Barreto ajudava nos trâmites legais entre a firma Zeiss na Alemanha e o Ministério da Educação. Foram adquiridos um refletor Cassegrain de 60 (sessenta) centímetros e um refletor Coudé de 15 cm. Os equipamentos foram conseguidos graças a um acordo entre o Ministério da Educação e Cultura e a República Democrática Alemã, que visava transformar em equipamento científico o saldo comercial que o Brasil possuía com aquele País.
- O referido equipamento chegou ao porto do Rio de Janeiro, de onde foi transportado para Minas Gerais, e ficou aguardando as conclusões das obras no prédio do IPR da UFMG. Posteriormente chegaram ao Brasil dois técnicos alemães para a instalação dos equipamentos.
- XVIII. O CEAMIG e a Piedade
- O pessoal do Centro estava com as atenções voltadas para as obras. Dr. Henrique Wykrota envidava inúmeros esforços para obter a verba necessária para a construção de uma cúpula para abrigar um telescópio refletor de 240mm que fora adquirido ainda na época do Centro ter o nome de César Lattes, pelo próprio Dr. Henrique.
- Este telescópio tem uma história que vale a pena ser contada. O Brigadeiro Sylvio Silva, que era Astrônomo voluntário do Observatório Nacional, vinha desenvolvendo alguns telescópios portáteis para membros daquela instituição, que eram carinhosamente chamados de "Os Sputiniks do Brigadeiro Sylvio Silva".
- Então os sócios do Centro cotizaram-se para a obtenção de uma verba para a aquisição de um desses Sputiniks, que mais tarde tiveram sua fabricação paralisada, pois ele era um portátil de grande peso e tamanho muito avantajado.
- Era projeto do Centro instalar este telescópio em um prédio que estava sendo construído junto às instalações do observatório da Piedade, para que assim, os sócios pudessem desenvolver seus trabalhos na região ótica.
- Dr. Henrique Wykrota conseguira obter do governo a verba destinada às obras de construção, mas por forças do destino esta verba foi solicitada por terceiros. Dr. Henrique, em um ato de fé que sempre o caracterizou, liberou por empréstimo o dinheiro, que acabou não sendo pago ao seu legítimo dono. Com isso as obras de construção deste prédio destinado ao CEAMIG, foram paralisadas, ficando caídas no esquecimento dos credores.
- XIX. A Inauguração do OAP
- Após montadas as cúpulas e os equipamentos, o Observatório Astronômico da Serra da Piedade (OAP) já tinha condições de entrar em operação.
- As instalações destinadas ao CEAMIG não foram concluídas no tempo hábil. Finalmente a data foi marcada para novembro de 1972 com uma solenidade pouco formal. Discursos abundantes houveram, pessoas ilustres aumentavam o brilho da solenidade que contavam ainda com as presenças do Exmº Sr. Ministro da Educação e Cultura, Jarbas Gonçalves Passarinho, do Sr. governador do Estado Rondon Pacheco e do Sr. Reitor da Universidade Federal de Minas Gerais Dr. Marcelo Vanconcelos Coelho.
- O CEAMIG, fazia-se representar então pelo seu Presidente, Profº. Bernardo Riedel e alguns de seus sócios fundadores: Dr. Henrique, Dª Zininha Wykrota e Rodrigo Társia. Mas uma surpresa aguardava muitos dos que ali se encontravam; ao ser descerrada a flanela que cobria a placa comemorativa, os representantes do CEAMIG não viram ali o nome da entidade, nem seu nome nos vários discursos que foram proferidos ali naquele dia. Houveram ainda pessoas que, a título de conselho aos observadores mais exaltados pela gafe cometida, pedir que não fosse mencionado o nome do CEAMIG, nesta solenidade. Esta foi a homenagem que receberam aqueles que sofreram as aguras do frio, e os problemas mais adversos possíveis. O fato é que, quando se faz algo para o bem da ciência, não se espera nomes em placas que se perdem com o tempo, nem mesmo em discursos que são esquecidos no transcorrer da vida, mas sim o reconhecimento humano como está gravado em cicatrizes profundas, nos corações dos que trabalharam para a conclusão da primeira fase do projeto OAB, construído mais tarde na cidade de Brasópolis MG.
- O Observatório de Piedade entrou em operações tendo como diretor o professor Francisco de Assis Magalhães Gomes. Após sua aposentadoria foi substituído pelo Profº Theodoro J. Vives.
- Assim foi um pouco a História da Construção do Observatório Astronômico da Serra da Piedade, que muito deve a Domingos Costa, Abrahão de Moraes, Luiz Muniz Barreto, Henrique e Zininha Wykrota, Jean Rösch, Francisco de Assis Magalhães Gomes e sobretudo aqueles que foram os verdadeiros heróis: os jovens da SEA e do Centro de Estudos Astronômicos de Minas Gerais.
- XX. Histórias da Piedade e Mateus Leme
- Além da escalada monumental de Abrahão de Moraes, ornamentado com o chapéu de palha, outros fatos pitorescos aconteceram.
- Jean Rösch, seguindo a prática que usava para analisar um sítio dirigiu-se a Dª Josina, a grande cozinheira da Piedade e autora do melhor feijão tropeiro do universo. Em um português cambaio ele perguntou: "você costuma ver sempre a lua e as estrelas?" Josina respondeu: "A lua eu não vejo não sinhô. As estrelas eu só vejo daquele lado".
- Rösch ficou intrigado com tal resposta. Como era possível ver estrelas e não a lua? E qual o motivo pelo qual as estrelas só apareciam ao norte? seria algum fenômeno meteorológico local, ou algum capuz de nuvens que cobria parte do pico?
- Muniz Barreto, vendo o embaraço do amigo, perguntou a Josina o motivo, e ela respondeu em meio a um sorriso: "Ora, o frei não deixa a gente sair de noite, e a janela é daquele lado".
- Na empolgação com a escolha de sítio, Muniz Barreto, perguntou a Jean Rösch se naqueles poucos dias ele já poderia dar um prognóstico sobre a possibilidade de se achar ali algum bom sítio. Rösch, apelando mais para seu quase misticismo ponderou: " Veja como as mulheres mineiras têm boa pele e lindos cabelos. Isso é prova de um excelente clima. Onde há mulheres bonitas, tem-se um bom lugar para fazer astronomia".
- Em visita à estação montada em Mateus Leme, Dr. Henrique ficou indignado com as queimadas que se faziam na região, e procurou o prefeito para ouvir dele uma explicação para tal fato.
- Este o respondeu: "UAI sô, as queimadas só eu que faço, si não cumé qui eu vô roçá ?"
- Quando a estação de observação meteorológica da Piedade foi montada, Muniz Barreto, que vinha a Belo Horizonte verificar como estava o andamento do trabalho desenvolvido por Rogério Godoy, Paulo Bandeira e Rodrigo Társia. O DER não havia instalado ainda a barraca de madeira e só havia uma lage de pedra. Por várias vezes este notável astrônomo dormiu sobre esta laje. quando a retiraram, foi descoberto um ninho com 47 escorpiões. Certamente fora para ele uma surpresa, e hoje ele nos conta esta estória para demonstrar como às vezes é necessário a um astrônomo ter um espírito de bandeirante.
- Também por ocasião dos trabalhos da estação da Piedade, foi feita uma paródia que ficou conhecida como Hino da Piedade, paródia esta extraída da 9ª sinfonia de Beethoven, e tinha um trecho mais ou menos assim:
- Em 1969, por sugestão de Magalhães Gomes, realizou-se na UFMG uma "Reunião sobre escolha de sítio", onde foi feito um balanço geral de todo o trabalho. Ao seu final, envoltos num ambiente de euforia, os observadores saíram cantando o "Hino", que recordava as estórias daquela estação experimental.
- XXI. Muniz Barreto, este "Homem da Lua"
- Piedade inaugurada e em plena operação, Muniz Barreto estava empreendendo uma outra missão: a construção do Observatório Astrofísico Brasileiro.
- Mesmo na época da escolha de sítio da piedade, já se tinha conhecimento que o pico da Piedade não seria o local ideal para a instalação de um grande observatório, mas ideal apenas para a instalação de um pequeno observatório que servisse não só à formação do grupo da Universidade Federal de Minas Gerais, como de uma experiência piloto para servir de base ao futuro OAB.
- Então resolveram buscar outros picos em regiões mais afastadas, solicitaram a Rogério Godoy que fizesse um levantamento detalhado das condições do pico do Itambé, e áreas como Araxá, Caldas, Três Corações, Maria da Fé, Brasopólis, Pico da Bandeira, Itatiaia, Pico dos Marins, Pedra do Sino, Bocaina, Sapucaí-Mirin, Santa-Rita, Virgínia, Pinto Negreiros, Campos do Jordão, Três Irmãos, Cristalina, Patos de Minas e Chapada dos Veadeiros.
- Mas alguma coisa parecia dizer a ele que o OAB iria ser instalado em Minas Gerais.
- Em 17 de fevereiro de 1970, foi montada uma estação experimental de escolha de sítio no Pico dos Dias. Passado algum tempo, mais precisamente no dia 06 de agosto de 1971, quando ele cuidava da rotina administrativa do Observatório Nacional, uma chamada telefônica o solicitava. Era José Pelúcio Ferreira, da financiadora de estudos e projetos, que queria falar-lhe de Brasília. O Presidente da República acabava de aprovar a exposição de motivos que acompanhava o projeto do Observatório Nacional, e o observatório de montanha tornava-se uma realidade.
- Muniz Barreto, após perceber o piscoso lago que é o estado de Minas Gerais para vocações astronômicas, passou a valorizar ainda mais à inúmeras cartas que recebia de todas as partes do país. E se na época da construção de Piedade considerava aquele grupo de jovens da UFMG que vieram a se mestrar e doutorar em astronomia, considerava os sócios do centro em igual teor e hoje considera muitos deles como os seus "netos de Minas Gerais".
- Luiz Muniz Barreto, este carioca de nascimento e mineiro de coração, nasceu no dia 02 de abril de 1925. formou-se em 1949 em engenharia civil e eletricista pela Escola Nacional de Engenharia. Licenciou-se em física em 1959 pela Universidade do Estado da Guanabara. Formou-se doutor em Ciências, na especialidade de Mecânica Racional e Celeste. Paralelamente ingressou no Observatório Nacional em 1945 onde como estagiário deu seus primeiros passos naquele que seria seu segundo lar.
- O apelido carinhoso de Homem da Lua fora-lhe dado pelo então governador de Minas Gerais, Dr. Israel Pinheiro por ocasião dos trabalhos no sítio de Piedade.
- XXII. O Centro e suas sedes
- Construído e inaugurado o Observatório Astronômico da Serra da Piedade, o CEAMIG, através de seu presidente Prof. Bernardo Riedel, voltaria as atenções para os problemas que haviam ficados pendentes, sendo o primeiro deles a conclusão do observatório na Piedade, os outros viriam a ser tratados com o decorrer do tempo.
- O outro era estabelecer uma sede onde a diretoria e os associados pudessem-se reunir e ministrar palestras e cursos aos sócios aspirantes que ingressavam na época.
- A diretoria não tinha solucionado o problema de imediato, por isto, foi mais fácil sediar-se no Laboratório Gener de Análises Clínicas, e as palestras e cursos serem feitas no auditório da Secretaria de Saúde. Quanto às aulas práticas, eram realizadas no bairro da Pampulha, pois fora conseguido por Bernardo, uma residência de propriedade de um de seus familiares.
- O equipamento usado nestas aulas eram os de propriedade do Centro, e dos sócios que dispunham de telescópios. Esta época foi marcada pelo aparecimento no centro de Teodorico Gonçalves Neto e Afonso Gonçalves, dois excelentes astrônomos amadores, e de um jovem que com seus valorosos préstimos muito ajudou a entidade nos períodos em que todas as atividades pareciam sofrer paralisações, este e Hércules Pereira Neves.
- Bernardo Riedel inaugurou mais tarde uma pequena loja no centro de Belo Horizonte de sua propriedade voltada para a venda de livros sobre astronomia e de telescópios, a ASTROTEC, e ali o pessoal fez por muito tempo um ponto de referência, sendo conseguido mais tarde um auditório através de Hércules P. Neves.
- O CEAMIG, teve também uma outra pessoa que muito colaborou com aqueles que ali chegavam para associar-se ao centro. Este colaborador era funcionário de Bernardo Riedel, figura sem par na gerência da loja, trata-se do Sr. Davi Diniz Barbosa, Davi com desvelo, ajudava não só a Bernardo Riedel, mas também aos que ali chegavam para filiar-se ao centro, ele realmente não media esforços para que o centro trabalha-se em harmonia, carregando projetor de slides ou selecionando fichas de inscrição, lá estava ele com seu trabalho sem interesse para ajudar a todos.
- XXIII. A volta dos Mistérios
- Bernardo Riedel, que como a maioria do pessoal do Centro despertou seu interesse pela Astronomia quando ainda era jovem, foi ingressar como associado através dos programas do Dr. Heros na Rádio Mineira, tendo ajudado muito na elaboração de programas. E como presidente do Centro, sentia a real necessidade de reerguer aquele que fora um dos maiores veículos de divulgação da astronomia em Minas Gerais, o programa "Mistérios do Firmamento".
- Bernardo, com autorização do Dr. Heros, conseguiu apoio da Rádio Inconfidência, através de seu coordenador Dr. Benedito Cândido da Silva, e fazia um programa semanal com mais de quinze laudas datilografadas, e como o primeiro, também seguia a cadência de um curso regular, e com inovações tais como entrevistas e informações sobre a posição dos planetas entre as constelações e ai por diante. Foi também pela primeira vez que uma estação de rádio transmitiu a hora certa do Brasil. Isto foi conseguido através de uma ligação feita dos estúdios da rádio para o Observatório do Valongo (RJ). O que hoje, basta apenas discar o número 130 para obter a hora gerada através dos padrões atômicos do Observatório Nacional.
- Ao total foram feitos mais de trinta programas na Rádio Inconfidência, que também como os programas de Dr. Heros teve como música prefixo Assim Falou Zaratustra , que substituiu a A Cavalgada das Valquírias, pois foi usada por várias emissoras de rádio e televisão por ocasião do vôo da Apollo XI com os astronautas, Michael Collins, Edwin Aldrin e Niel Armstrong na missão à lua.
- Isto sem dúvida foi novamente um bom meio de divulgação da astronomia, usado como forma de apresentar ao público que, apesar das dificuldades encontradas, o Centro mantinha uma atividade constante, e com isto foram aparecendo mais pessoas que tinham interesse de um modo geral na ciência. O programa obteve uma audiência espetacular, pois na época a Rádio Inconfidência que sempre fora uma grande emissora, era ouvida não só em Minas Gerais mas também nos estados de São Paulo, Mato Grosso e Goiás.
- XXIV. Novamente desfeito o sonho
- O Centro voltava a se preocupar com o público de um modo geral, haja visto com as palestras e o retorno do programa de rádio, o número de associados veio com isto a crescer novamente. Isto fez renascer novas possibilidades de Belo Horizonte ter o seu sonhado planetário.
- Foram feitos diversos contatos para entendimentos entre o CEAMIG e a Prefeitura municipal da cidade que tinha como prefeito o Dr. Oswaldo Pieruccetti. A diretoria do Centro pleiteava uma área no parque municipal da cidade para a instalação do equipamento, e a prefeitura entraria com o pessoal para administração.
- Bernardo Riedel, custeando suas próprias despesas, embarcou para o Rio de Janeiro e lá manteve contato com o representante da Zeiss no Brasil, conseguindo por seu intermédio um financiamento de 10 anos, com juros de 6 % ao ano.
- Posteriormente Bernardo foi a São Paulo e, em visita ao planetário da capital paulista, foi informado do interesse da Universidade de São Paulo em vender aquele equipamento para a aquisição de outro mais novo.
- Mas os entendimentos com a prefeitura de Belo Horizonte por cargas D`água e só Deus sabe de quem, fora desfeito, e as negociações foram paralisadas e não mais retomadas.
- E mais uma vez a aspiração de muitos que trabalhavam para a criação de um centro de cultura em Minas, era engavetado nas escrivaninhas quando muito, ou então encontrava endereço certo na mais próxima lata de lixo; até parece que determinados caramunhões trabalhavam contra o desenvolvimento cultural do povo.
- Quanto ao problema de um local para ser ministradas as palestras, estava por hora resolvido, Hércules P. Neves desta vez superou a expectativa de muitos. Ele solicitou o auditório do colégio Santo Antônio na Rua Pernambuco 880, aos padres daquela instituição de Ensino que receberam o CEAMIG com o carinho que, desde os tempos dos Edifícios Acaiaca e Imeco o pessoal não tinha, e nesta época que aparecem no centro figuras que hoje, se posso ter o direito de chamar-lhes de amigos, vou até mais longe e os chamos de Irmãos.
- E com o maior orgulho e carinho que falaremos destas pessoas em " Sonhos e Realidade, o despertar de Paixões ".
- XXV. O Museu de História Natural
- Bernardo Riedel, como professor da UFMG, conseguiu mais tarde resolver mesmo que parcialmente o problema da sede do CEAMIG, o Museu de História Natural da UFMG, um dos pontos mais bonitos de Belo Horizonte, que abriga Ciências como a botânica e a arqueologia, poderia também abrigar a astronomia, porque não ?
- Quando o CEAMIG foi para o Museu de História Natural, era pensamento de Bernardo, levar para lá não só o centro mas também o CPG (Centro de Pesquisas Geológicas), a Sociedade Orquidófila Mineira, enfim, todas estas entidades que divulgam a Ciência seja ele geológica, botânica ou astronômica, atendendo ao público numa faixa que a universidade não atende.
- E curioso notar que na área interna do Museu, na época que o centro ali sediou-se, já estava instalada uma luneta Zeiss de 150 mm e de 2250 mm de distância focal. O que mais chama a atenção para este aparelho é a sua história.
- " O ditador alemão Adolf Hitler, no auge de suas conquistas durante a segunda guerra mundial, deslumbrado com o sucesso das bombas voadoras V-2, solicitou a um de seus astrônomos que percorresse a Alemanha, em busca de um aparelho que rastreasse a sua trajetória durante o vôo, e mandou instalar a luneta na costa do Atlântico.
- Mas o Fato é que um aparelho astronômico não é o instrumento ideal para seguir a trajetória de um foguete, pois tem um campo visual muito reduzido, e como comenta o Dr. Muniz Barreto, ... o aparelho designado para vislumbrar o céu simplesmente recusou-se a mirar o inferno. E assim este aparelho foi colocado de lado, pois não cumpria os propósitos de Hitler.
- Pois bem, acabado o holocausto da guerra, um professor da Universidade Federal de Minas Gerais em visita à Europa, encontrou este equipamento abandonado num ferro velho, e como tal foi comprado como sucata, sendo trazido para a universidade.
- Por ocasião dos trabalhos na Piedade, esta luneta quase foi instalada na serra juntamente com os demais aparelhos que foram adquiridos na Alemanha, fora feito um trabalho de recuperação total da luneta, sendo sua parte ótica recuperada no Observatório Nacional e a mecânica nas oficinas da própria universidade.
- No entanto o professor Francisco de Assis Magalhães Gomes preferiu instalar este equipamento na imensa área verde do Museu de História Natural.
- A área próxima ao prédio que abriga esta luneta é enorme e não era utilizada, e foi pensamento do centro construir ali um parque astronômico. Bernardo Riedel juntamente com Afonso Gonçalves e Teodorico Gonçalves Neto, trabalharam com afinco no projeto.
- Era um projeto simples, que consistia na construção de um relógio de sol e de pilares para a colocação de pequenos telescópios, mas a universidade na época passava por uma séria crise financeira e a idéia foi colocada de lado.
- Bernardo ao longo do tempo já sentia-se cansado e era seu pensamento passar a presidência do centro a uma pessoa capaz de substitui-lo na árdua missão de divulgar a astronomia, mas conseguira contornar o problema de uma sede para o CEAMIG deixando-o num dos locais mais belos que esta cidade possuí, e que já foi um dia chamada Cidade Jardim.
Foi lá na Piedade
que o barbudo teve
o seu papel.
Foi lá na Piedade
que o barbudo nem
olhou pró céu.
Lá não tinha o
marteleto,
mas tinha o frei
Rosário e Josina...
Observatório
Nosso observatório e refletores

Wykrota
Código MPC: 859
Altitude: 1500 m

Atlas
Serra da PiedadeFeito inteiramente no CEAMIG

Atlas
Serra da PiedadeEspelho

Meade
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